Da terra se constrói o mundo. O olhar sobre o mundo. A nossa forma de habitar o espaço e o tempo. É a mãe da vontade, a linha que traça o horizonte. Da terra tudo nasce, à terra tudo regressa, como um porto que permanece uma vida inteira dentro de cada um. Só nela e dela perspectivamos o caminho. Quando a cavamos é para semear futuro, os verbos sabem disso. Só esta conjugação eterniza a esperança. Sabem que o tempo de amanhã não se faz sem a matéria maternal. A terra é sempre o rumo inicial, quando a esquecemos perdemos a razão. E a razão quer-se próxima do ventre, onde a semente germina e a ignorância termina.

Alguns dizem que é impiedosa, que é andar ao sabor da sorte, que o melhor é arrepiar trilho e caminho. Outros dizem que quando o sol fustiga a mãe castiga. Mas concluem, que interpretá-la é o melhor ensinamento. A atenção que damos à terra é a devolução do renascer. Do sentido dos ciclos. Para isso, ler nas expressões dos dias e das noites, a altura mais apropriada para preparar, cultivar, regar, aguardar, cuidar, podar e colher é reaprender a amar a gestação do sonho.

A terra é exigente, não folga o corpo, castiga os ossos, às vezes dobra a crença, mas há sempre um momento em que volta a esverdear a esperança. Terra, água, ar, fogo  e homem que simbiose tão perfeita. Unem-se, fundem-se como um "amor que arde para se ver".  Num só quando são cepa, casta, flor, fruto, casa e a perfeição harmoniosa de um vinho. Parcelas, que se somam diariamente ao conhecimento através de várias gerações, para sermos de uma vez por todas a verdadeira humanização do mundo.

Só no Baixo Alentejo é que a degustação demorada e a voz rude da planície se transformam num Ser. Não sabemos onde começa a prova e termina o cante. Apenas sentimos que a alquimia se materializa na dolência de quem desfruta com vagar o que de mais precioso se deve apreciar, aproveitar e agarrar… A vida!

Nesta fase já sabemos que entre entrelaçámos a sabedoria e o futuro num extraordinário encantamento. Assim queiramos continuar a saber ler na natureza, a personalidade da mãe terra e a Identidade das gentes que conservam os saberes imemoriais do néctar dos deuses.